102 Anos de Paulo Freire: Heranças do patrono da educação brasileira que revolucionaram o processo do saber

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A capital pernambucana, em 1921, foi berço para o brasileiro que transformou o modelo de ensino, tornando seus métodos e teorias de aprendizagem referência de excelência não só no país como em outras nações. Em 19 de setembro, comemoram-se os 102 anos de aniversário de Paulo Freire, reforçando a importância  da preservação de seu legado e suas heranças para a educação.

Além de um dos mais importantes educadores do Brasil, Freire foi um pesquisador, escritor, filósofo e, até hoje, é mantido como grande referência na pedagogia, graças aos seus métodos de ensino que colocavam a educação como ferramenta, emancipação e transformação das pessoas e o da sociedade, por meio do fortalecimento do senso crítico. Para ele, as salas de aula eram locais reservados para diálogo e trocas sem hierarquia; alunos e professores eram vistos como iguais, e o aprendizado era pautado nas necessidades diárias reais dos estudantes. 

Segundo o educador, era necessário conhecer a experiência do/a aluno/a, saber de onde ele vinha, podendo, assim, aproveitar seus conhecimentos prévios. Nesse processo, os/as professores/as seriam capazes de cativá-lo/la e apresentar mudanças práticas no dia a dia.

Para o presidente da CNTE, Heleno Araújo, a constante de estimulação para participação social trazida por Paulo Freire tem sido uma referência que permeia a formação de milhares de educadores/as, através das gerações. “Um dos educadores mais lidos no mundo […] defensor de que todos e todas que atuam dentro da escola e ao redor dela devem estar comprometidos com a vida daquele lugar”.

Em 1963, Freire montou um grupo de educação popular, em Angicos, Rio Grande do Norte. Um dos feitos mais conhecidos do educador, quando foi capaz de alfabetizar cerca de 300 trabalhadores da região após 40 horas de estudos. O método, quase instantâneo, utilizava a realidade dos estudantes da região como ponto de partida para a alfabetização.

Após o experimento, no mesmo ano, recebeu a proposta do então ministro da educação, Darcy Ribeiro, de elaborar o programa nacional de alfabetização. Oficialmente publicado em 1964, o programa trazia metas audaciosas, como alfabetizar 1,8 milhão de pessoas com o sistema freire ainda no primeiro ano de ação. Mas, por conta do golpe civil-militar de 1964, assim como outros trabalhadores intelectuais, ele foi considerado uma ameaça e tratado como inimigo do estado, sendo levado preso para Olinda (PE) como um sujeito “subversivo e ignorante” e, logo após, seguindo para o exílio.

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Paulo Freire.

Quando de volta ao Brasil, Heleno destacou a atuação de Freire como secretário Municipal de Educação de São Paulo na gestão de Luiza Erundina, primeira prefeita de São Paulo. Enquanto em atividade, agia na defesa de que professores/as tivessem uma jornada de trabalho dividida entre didática com estudantes e trocas com outros profissionais educadores. “Suas metodologias para formação de professores e professoras até hoje são aplicadas nas redes públicas”, comentou Heleno.

Freire permaneceu até 1991 como secretário Municipal de Educação, trabalhando a educação baseada na liberdade. Também nessa época, surge o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA SP), importante para a alfabetização popular da cidade. 

Apesar de nunca terem sido implementados integralmente na educação básica do país, os métodos de alfabetização criados por Freire permanecem ativos até hoje. “As escolas, infelizmente, ainda trabalham pouco a autonomia da instituição, no sentido de possibilitar a construção do seu próprio currículo, praticar a gestão democrática e estimular a prática cidadã, despertando o senso crítico dos nossos estudantes”, Heleno lamenta.

Entretanto, ele enfatiza a força da educação e dos métodos freirianos que perduram até hoje, com um legado de amorosidade, gestão democrática, atenção e cuidado com os nossos/as estudantes, completou.

 Assista o documentário da CNTE “Paulo Freire 40 horas 50 anos depois”