MANIFESTEM-SE MULHERES: Palavras das educadoras de Lauro de Freitas

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Por Ladjane Alves Sousa*

A mudança é sempre um convite feito cotidianamente para cada mulher, homem, seja criança, adolescente, adulto ou idoso. Nem sempre é fácil, muitas vezes é como arrancar, em dias que o coração está nublado, uma poesia suave do esconderijo que a alma tanto guarda.

Nós trabalhadoras em educação das escolas públicas para os populares, coletivo estes dos quais também fazemos parte, pois somos os mesmos pobres, negros, e trabalhadores assalariados, aprendemos que as mudanças que nos valorizam profissionalmente no Município de Lauro de Freitas, assim como em todo o Brasil, se fazem frente às lutas.

Em pleno ano de 2018, ainda lutamos por garantia de direitos como: qualificação profissional, efetivação do plano de carreira, direito a plano de saúde e, em muitos casos, direito a garantia do recebimento do salário.

Faz 100 anos que ocorreu a primeira greve de professores primários em Salvador, município mais próximo de nossa cidade, e ao que tudo indica a primeira greve deste coletivo de trabalhadores no Brasil, onde, entre janeiro a março de 1918, as professoras estavam nas ruas, na frente da Intendência Municipal lutando pela remuneração mensal.

As mudanças em Lauro foram muitas, as paisagens de areias e coqueirais já não se fazem presentes, uma grande urbanização foi efetivada devido, entre outros fatores, à construção da Estrada do Coco, bem como, ao surgimento do Bairro Vida Nova, em consequência de migrações internas, mas, ainda convivemos, em nosso território, após um século da primeira greve de professores primários, com a luta pela garantia de direitos.

É urgente a construção de outras possibilidades de coexistir, pois caminhamos sobre a lógica do dominante, das políticas neoliberais e as consequências da globalização, e ainda a permanente amalgamação a um projeto masculino de sociedade. 

Somos um coletivo diverso, preenchidos de especificidades, então nos cabe lutar, nos manifestando, colocando nossas particularidades frente a um modelo de sociedade que nos exclui e marginaliza nossas diversidades subjetivas e objetivas. 

É chegada a hora de reinventarmo-nos, caminhando com o nosso oposto, em silêncio, como nos foi ensinado, e como ainda aguentamos ou insistimos em praticar, mas também com palavras, gritos e sonhos, pois precisamos ser além da presença, mulheres de ideias. Comecemos com a força das palavras escritas, lidas, proferidas, cantadas nas jornadas de trabalho construídas nos protestos nas ruas. 

Manifestem-se mulheres, pois nós educadoras, nas tantas funções que exercemos, professora, serviço geral, administrativo, auxiliar de classe, cuidadora, porteira, entre outras, fazemos parte da história dos subalternos, que vêm sendo atravessada de acomodações, mas tão fortemente de negociações, transgressões, lutas, entre outras características, na busca por mudanças, construídas sempre a partir do lugar de quem fala, vive e sente sua época, pois as sensibilidades cotidianas dos subalternos não são estáticas.

*Mestra em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia 
Coordenadora Pedagógica da Escola Municipal Paulo Freire