Paulo Freire, um dos pensadores mais relevantes da Pedagogia Mundial. Sua obra, a quem assusta?

0
4209

Por Rosângela Accioly

“É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo… “(FREIRE, 1992). 

         Aos nostálgicos de um período de repressão, de censura e falta de liberdade de expressão nas artes e na cultura, é importante lembrar que, na democracia, o sistema judiciário é independente do Poder Executivo. Por essa razão as denúncias aos corruptos são possíveis de serem investigadas. No tocante à Educação, o país apresentava índices um de analfabetismo alarmante entre os anos 1950 e 1960. Apesar da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)1961. Apesar da obrigatoriedade e gratuidade. Não havia escolas suficientes para atender a todos/as e a pobreza da população brasileira era vergonhosa.

         A despeito da campanha em Defesa da Escola Pública liderada por Laerte Ramos de Carvalho, Florestan Fernandes, Roque Spencer, Maciel de Barros e Fernando de Azevedo, a LDB privilegiou os interesses privatistas. O golpe de 1964 cassou relevantes educadores como: Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e Paulo Freire, que fora coordenador do Programa Nacional de Alfabetização 1964. Seu trabalho foi substituído por técnicas tradicionais de alfabetização.

         Para compreender a importância e necessidade da obra de obra Paulo Freire – 1921-1997 – não só no Brasil, mas na América Latina é preciso revisitar os porões da história da Ditadura e mostrar que em pleno século XXI estes pensamentos ideológicos, autoritários e essas atitudes reacionárias continuam a fortalecer e embasar algumas alas ideológicas da política no Brasil e no mundo. Para Freire, não bastava saber ler e escrever “Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no contexto social. Quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”.

         Um dos autores mais citados em trabalhos acadêmicos em todo o mundo, Pedagogo e Filósofo. Estudado nos Estados Unidos, homenageado na Suécia, Finlândia, África do Sul, na Áustria, na Alemanha, na Holanda, em Portugal, na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Canadá. Recebeu o Prêmio Educação para a Paz, outorgado pela a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura /UNESCO, em 1986. Seu trabalho foi abraçado por João Goulart (1919-1976), entretanto com a ditadura militar, o educador passou a ser perseguido. Foi preso por 70 dias e exilado no Chile e Bolívia.

         Seu método foi aplicado pela primeira vez, em um grupo de 300 trabalhadores/as de canaviais em Angicos, no Rio Grande do Norte – Brasil e ao completar 100 anos, o Patrono da Educação brasileira precisa ser lembrado, a partir de suas contribuições libertárias e anti-opressivas que assustaram e ainda assustam a Ditadura Militar. Elites opressoras que almejam a dominação. Seu método enunciava/enuncia a educação popular dialógica que se entrecruza de forma umbilical com a emancipação/libertação, solidariedade e autonomia das classes operárias.

         Crítico do capital defendia a autonomia intelectual, o compromisso deste importante educador era o de libertar o povo da tentativa de subalternizar as vozes dos oprimidos/as.  Porquanto era/é preciso alfabetizar como um ato libertário. Para fazer-nos entender o contexto social, ideológico e político a que estávamos/estamos submetidos/as. Sua obra faz um questionamento às práticas constituidoras de uma educação bancária, que privilegia, sobretudo, a consciência crítica dos menos favorecidos. Deste modo Paulo Freire foi um ativista pelos Direitos Humanos, sua pesquisa entendia a alfabetização como um processo político e libertário que buscava a democracia e justiça social que libertava/liberta os menos favorecidos do sistema imperialista e capitalista, que tinha/tem por vocação submeter os/as trabalhadores/as a uma situação de dependência ao sistema.

Salve o Patrono da Educação Brasileira!

Rosângela Accioly Lins Correia cursa doutoramento pelo Programa de Pós-graduação Educação e Contemporaneidade/ UNEB. Possui mestrado em Educação e Contemporaneidade pelo Programa de Pós-graduação em Educação e Contemporaneidade/ Universidade do Estado da Bahia UNEB, graduada em Pedagogia com habilitação em Educação Infantil pela UNEB(2009). Entre outros.